O deputado e artista plástico Edmilson Rodrigues (PSOL-PA), denunciou no plenário da Câmara Federal a censura imposta ao premiado artista Gidalti Moura em um shopping de Belém, o Parque Shopping. O parlamentar classificou a decisão de proibir a exposição de seu trabalho como inadmissível. O pronunciamento foi feito nesta quarta-feira (18).
Por Edmilson Rodrigues
Venho a esta tribuna registrar a solidariedade ao artista Gidalti Moura Jr, quadrinhista, pintor e professor mineiro, Mestre em artes pela Universidade Federal do Pará (UFPA) e pós-graduado em História da Arte pela Escola de Belas Artes de São Paulo. Ele cresceu e viveu muitos anos no Pará, mas está morando em São Paulo há cinco anos. Ele teve um desenho censurado numa exposição em um shopping de Belém, o Parque Shopping, causando clamor social. A imagem criticada mostra um menino de rua com cabeça de urubu saltando sobre um carro de mão de madeira cheio de castanhas-do-Pará porque está fugindo da agressão de um policial militar que está com o cassetete levantado na direção dele. O desenho ficou cerca de três dias exposto, desde que a mostra foi aberta com a participação de obras de outros quadrinhistas, até que despertou a insatisfação de policiais militares e, possivelmente, de outras pessoas que ficaram insatisfeitas com a referência à violência policial trazida pela obra.
Diante das reclamações, a curadoria da exposição decidiu cobrir a ilustração chamada "Corre" com um pano preto e retirá-la da mostra, na última segunda-feira, 16/04. Foi pedido ao autor que envie a Belém outro desenho para substituir o anterior. Porém, longe das críticas terem refletido a opinião unânime do público, a polêmica em torno do desenho atraiu a atenção de pessoas em geral, inclusive, daquelas que não viram motivo para a censura da obra e que passaram a questionar abertamente a atitude dos organizadores da exposição nas redes sociais e na imprensa.
Gidalti explica que o desenho é uma réplica ampliada da capa do livro de história em quadrinhos publicado por ele, romance chamado "Castanha-do-Pará", que recebeu o Prêmio Jabuti de melhor história em quadrinhos no ano passado. O livro traz como personagem principal um menino de rua, vítima da desestrutura familiar e que sobrevive aplicando pequenos furtos no Ver-o-Peso. Para o artista, que foi ouvido pela minha equipe de gabinete, a retirada do desenho chamado "Corre" é uma "censura, uma intervenção numa exposição artística a partir de elementos externos extremistas, pois a imagem não é ofensiva (a policiais militares) e nem agressiva, o que é de uma ignorância espantosa, pois, mesmo que fosse ofensiva, vivemos numa democracia em que é permitida a expressão pela arte."
Nas redes sociais, Gidalti reclamou que a retirada da obra dele da exposição é um "gesto contrário aos valores fundamentais de liberdade de expressão”. "A obra é ficcional, tem caráter lúdico e expõem situações rotineiras nas metrópoles brasileiras. Quem a compreendeu como apologia ao crime ou a desmoralização da Polícia Militar, o faz de forma leviana. A retirada da imagem da exposição é uma vitória parcial da ignorância, do medo e de forças antagônicas à liberdade", diz ele.
Em tempos sombrios de retrocesso nas diversas áreas sociais, observamos novamente as manifestações culturais sendo alvo de ataques injustificáveis, como se não coubesse às artes justamente o papel de incitar questionamentos acerca da realidade social. É inaceitável que as expressões artísticas sejam tolhidas pela ação crítica de alguns, como se a violência praticada por parte dos policiais da ativa - não podemos generalizar, claro - não fosse uma realidade em Belém e em todo o país.
Portanto, registro meu repúdio a este ato de censura às artes e minha total solidariedade ao artista Gidalti Moura Jr.
*Edmilson Rodrigues é arquiteto, professor, artista plástico, compositor, escritor e parlamentar, atualmente exerce o mandato de deputado federal.