Não alimentem os trolls: um guia para não dar voz ao discurso tóxico de ódio na internet
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Publicado em 31/03/2018

por Cedric Stephan Graebin

Estou aqui para falar de um assunto meio chato: os trolls, bots e stalkers (também chamados de "motoboys de treta") nas redes sociais que estão sendo usados para propagar e amplificar discursos de ódio. Desde que redes sociais como Facebook e Twitter mudaram seus algoritmos para parar de mostrar os posts em ordem cronológica e sim em “ordem de interesse”, essencialmente é isso o que acontece na sua linha do tempo nas duas redes sociais:

Quanto mais reações ou curtidas, comentários, respostas ou compartilhamentos ou "retweets" em uma postagem, maior a chance de que ele apareça em sua linha do tempo, quer você considere ele importante ou não (desde o fim da ordem cronológica nas postagens, os algorítimos das redes sociais é que decidem o que é relevante para você).

As empresas responsáveis pelas plataformas de redes sociais fizeram isso por um motivo bem simples: dinheiro. Quanto mais visto um post, mais tráfego é atraído para os sites e mais pessoas vêem as publicidades associadas à postagem.

Em outras palavras, quanto mais chocante, polêmico ou indignante um post ou tweet for, mais dinheiro as empresas responsáveis pelas redes sociais estão ganhando.

E para dizer de um modo mais direto, Facebook e Twitter estão ganhando dinheiro a partir da nossa indignação com conteúdos ultrajantes.

E, ao divulgarmos, compartilharmos, retuitarmos ou citarmos os tweets de trolls (contas nas redes sociais que tem o objetivo de causar polêmicas, ofender, xingar e assediar outras), estamos essencialmente dando palanque para a mensagem de ódio dessas contas se espalhar ainda mais (importante ressaltar sempre: quanto mais "retweets", reações ou compartilhamentos, mais visibilidade estes posts ganham).

E essa visibilidade enorme acaba gerando um descompasso entre o movimento real das pessoas nas redes sociais e o que é percebido (ou mostrado) para as pessoas usando estas redes. Para citar um exemplo bem recente, um estudo da Fundação Getúlio Vargas (FGV) acompanhando a reação das pessoas nas redes sociais após o assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ) mostrou que apenas 7% dos posts ou tuítes foram mensagens de ódio ou de ataque à vereadora ou a partidos de esquerda (vejam, por exemplo, a reportagem da VICE sobre isso em: https://www.vice.com/…/evq4m7/falsas-noticias-sobre-marielle). Embora o número absoluto destes posts tenha sido baixo em relação ao total de posts mencionando o assassinato, o que percebemos é que eles se espalharam nas redes como fogo em grama seca, por causa do alto número de "retweets", compartilhamentos, reações e respostas, que fizeram os algoritmos das redes sociais interpretarem esses posts como “interessantes” e colocar eles com destaques nas telas de muita gente.

Uma outra coisa importante que podemos falar aqui é sobre como lidar com trolls, bots e “motoboys de treta” nas redes sociais. 

Já falamos um pouco sobre o que são os trolls, mas é bom também descrever os outros dois tipos de contas: bots (de robots) são contas automatizadas (integralmente ou parcialmente) que, em geral, procuram palavras-chave em posts em redes sociais para responder automaticamente a estas mensagens. Um jeito fácil de identificar uma conta de um bot no Twitter, por exemplo, é verificar visualmente quanto das postagens da conta são "retweets" e respostas em relação a posts individuais. Se a grande maioria for retuítes e respostas, há uma grande chance de se estar lidando com um bot automatizado ou uma conta dedicada a coletar informações.

A minha experiência com alguns bots nas redes sociais indica que os bots utilizados para a propagação de discurso de ódio em geral propagam um conteúdo para alertar uma conta operada por um troll, o qual então inicia uma série de respostas tóxicas e ofensivas em direção ao autor da mensagem original. Existem também os motoboys de treta (ou stalkers), contas operadas por pessoas que, ao verem uma mensagem, compartilham ela marcando um troll famoso e assim atiçam uma manada de usuários contra o autor da postagem original.

Como lidar com essas contas? Existem duas opções: o bloqueio e o silenciamento. Para bots, stalkers ou “motoboys de treta”, o bloqueio é a melhor opção, pois isso quebra o poder de visualização dos posts (e, por consequência, a cascata de respostas tóxicas que vem logo depois). Para trolls, em alguns casos silenciar é melhor do que bloquear, pois muitos trolls famosinhos usam os bloqueios por parte de usuários como troféus de vitória para seus seguidores. Entretanto, se os ataques por parte de um troll sejam muito fortes, aí não tem jeito mesmo: bloqueio é a melhor resposta, seguida de denúncia da conta por abuso nas redes sociais.

Fonte: Além das Sombras

 

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