Edmilson Rodrigues*
Sempre vivi em Belém.
Nasci, cresci e envelheço em Belém.
Por isso sou alegre, orgulhoso: de barro.
Ruas de barro, leitos dos rios, também, de barro.
Minha alma transborda argila.
E essa imbricação do que na vida é argamassa comunica.
A disposição para amar, que me move,
vem desse cordão umbilical que à Belém me prende,
de suas noites estreladas, sua gente e seus horizontes.
Minha alegria é um hábito, que às vezes se interrompe:
herdo-a da doçura belenense.
Em Belém guardo as prendas que ora vos apresento:
As pedras do barro, futuro argiloso do Brasil.
O anel de tucumã e os colares de sementes ou de missangas ganhados de irmãos de sonhos
acompanham meu corpo, moram em minha casa.
Nunca tive riqueza.
Sou professor e arquiteto com os pés no barro.
Belém é o meu lugar, é o espaço das minhas solidariedades.
E como sou feliz por amá-la!
Nota: Em 1940, em clima de segunda guerra mundial, Carlos Drummond lançou seu livro Sentimento do Mundo, que foi escrito quando o Brasil vivenciava a ditadura varguista do “Estado Novo” e a Europa experimentava a ascensão do fascismo. Nessas circunstâncias a belíssima obra trouxe, também, um certo matiz pessimista e de tristeza. Inspirado no poema Confidência do Itabirano escrevi esta Confidência do Belenense em tom alegre e otimista, apesar das circunstâncias atuais de estado de exceção no país e de grande abandono governamental da nossa quatrocentona cidade.
*Edmilson Rodrigues é arquiteto, professor, artista plástico, compositor, escritor e parlamentar, atualmente exerce o mandato de deputado federal.