Confidência do Belenense | Poesia em homenagem aos 402 anos de Belém do Pará
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Publicado em 12/01/2018

Edmilson Rodrigues*

 

Sempre vivi em Belém.

Nasci, cresci e envelheço em Belém.

Por isso sou alegre, orgulhoso: de barro.

Ruas de barro, leitos dos rios, também, de barro.

Minha alma transborda argila.

E essa imbricação do que na vida é argamassa comunica.

 

A disposição para amar, que me move,

vem desse cordão umbilical que à Belém me prende,

de suas noites estreladas, sua gente e seus horizontes.

 

Minha alegria é um hábito, que às vezes se interrompe:

herdo-a da doçura belenense.

 

Em Belém guardo as prendas que ora vos apresento:

As pedras do barro, futuro argiloso do Brasil.

O anel de tucumã e os colares de sementes ou de missangas ganhados de irmãos de sonhos

acompanham meu corpo, moram em minha casa.

 

Nunca tive riqueza.

Sou professor e arquiteto com os pés no barro.

 Belém é o meu lugar, é o espaço das minhas solidariedades.

E como sou feliz por amá-la!

 

Nota: Em 1940, em clima de segunda guerra mundial, Carlos Drummond lançou seu livro Sentimento do Mundo, que foi escrito quando o Brasil vivenciava a ditadura varguista do “Estado Novo” e a Europa experimentava a ascensão do fascismo. Nessas circunstâncias a belíssima obra trouxe, também, um certo matiz pessimista e de tristeza. Inspirado no poema Confidência do Itabirano escrevi esta Confidência do Belenense em tom alegre e otimista, apesar das circunstâncias atuais de estado de exceção no país e de grande abandono governamental da nossa quatrocentona cidade.

 

*Edmilson Rodrigues é arquiteto, professor, artista plástico, compositor, escritor e parlamentar, atualmente exerce o mandato de deputado federal.

 

 

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