arte: divulgação
A premiada exposição “Reminiscências”, de Renata Aguiar, inicia nova temporada em Belém. Desta vez, a artista propõe a ocupação da floresta preservada da Escola Bosque, na Ilha de Outeiro, convidando os visitantes a um percurso por intervenções, que dialogam com trilhas dos quinze hectares de mata da fundação. A abertura da nova temporada do projeto será neste sábado, 23. Haverá oficinas e bate-papos gratuitos na programação, que se estende por dois meses. Em seguida, a mostra irá para o Rio de Janeiro.
A mostra, que estreou em 2023, na Galeria Theodoro Braga, do Centur, deixa o ambiente tradicional do museu, sai de quatro paredes, para ocupar bosques, árvores e lagos, além de descentralizar os eventos de Belém, ocupando sua área insular.
Conceito
São fotografias, fotoperformances e videoperformances distribuídos por trilhas da Fundação Escola Bosque e pela sede do Ecomuseu da Amazônia, onde Renata Aguiar atua como professora de Artes há dez anos junto a crianças e adolescentes de comunidades ribeirinhas. Essa versão da exposição traz um conceito de montagem que se expande além das paredes da galeria.
“Geralmente a gente pensaria esse local como ‘inóspito’ para uma mostra de arte. Mas é o contrário. A gente precisou adaptar os materiais, para que fossem mais resistentes para ficarem expostos em ambientes abertos. As obras aparecem integradas a esse território, impressas em tecido”, afirma Paola Maués, que assina a curadoria desta segunda temporada do projeto.
[caption id="attachment_48401" align="alignleft" width="800"] A artista Renata Aguiar (divulgação)[/caption]
Corpo-Amazônia
Neste projeto, Renata percorreu locais de travessia da mãe e de sua avó, voltando à cidade de sua juventude em busca de costurar, nessa interação com os espaços, sua história de mulher amazônida. Nascida em Urucará, no Amazonas, Renata se mudou para Porto Velho, em Rondônia, e também viveu em Capanema (AM), e Ajuruteua, no município paraense de Bragança. Em sua pesquisa no Pará, a artista segue os passos das matriarcas em Muaná, na Vila de São Miguel do Pracuúba, no Marajó, vai a Abaetetuba, Santarém e Santa Maria.
Vencedor do Prêmio Branco de Melo 2023, da Fundação Cultural do Pará, o trabalho é resultado de investigações poéticas das relações corpo-território na Amazônia. Nas palavras da artista, “Reminiscências são restos, aquilo que fica como marca do que já passou. Como nos álbuns de família, debrucei-me sobre o meu passado ancestral, buscando refazer os caminhos das mulheres de minha família. Mulheres que correm desde o estado do Amazonas, Santarém, Rio Tapajós, até a região bragantina, para desaguarem na ilha de Outeiro”.
Quase todas as obras que integram a exposição foram criadas nos quatro anos de pesquisa da artista no Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais, para obtenção do título de doutora em Artes Visuais pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Oficinas
Selecionado pelo Edital de Artes Visuais – Lei Paulo Gustavo, “Reminiscências” traz em suas contrapartidas sociais três atividades gratuitas: uma oficina de “Performance para Fotografia”, conduzida em parceria com o performer Carlos Vera Cruz; uma oficina de “Câmara Obscura”, com Renata Aguiar; e uma roda de conversa com o tema Arte e Território, com Marisa Mokarzel, curadora da primeira montagem da exposição em 2023, a curadora da atual montagem da mostra, Paola Maués e a artista.
Com mais de 20 anos de trajetória no teatro, Carlos Vera Cruz é mestre em Artes Cênicas UNIRIO, especialista em Saberes Africanos e Afro-brasileiros na Amazônia UFPA, e licenciado pleno em Teatro UFPA. Entre seus principais trabalhos em artes cênicas estão “O Auto da Barca do Inferno” (2001), pelo qual foi indicado ao prêmio de melhor ator no 10º Festival Paraense de Teatro. Participou das óperas “Elixir do Amor” (2013), “Blue Monday” (2014), e “Mefistófele” (2014), todas no Festival de Ópera do Teatro da Paz.
Doutora em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará e mestre em História da Arte pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, Mariza Mokarzel é professora e pesquisadora. Já atuou na curadoria de artistas como Berna Reale, Alberto Bitar, Elza Lima, Armando Queiroz, Octávio Cardoso, e Miguel Chikaoka.
Paola Maués é museóloga na Universidade Federal do Pará (UFPA), onde atua na Galeria de Arte, gestão do acervo da Coleção Amazoniana de Arte, e coordena o projeto de extensão universitária “Amazoniana Documenta”. Doutoranda em Artes na UFPA, desenvolve pesquisa na temática dos estudos de gênero em coleções de arte. É mestre em Museologia e Patrimônio pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (2014), e licenciada e bacharel em Artes Visuais pela Universidade da Amazônia (2010). É membra do Fórum de Museus de Base Comunitária e Práticas Socioculturais da Amazônia e da Rede de Educadores em Museus do Pará.
Depois da temporada em Outeiro, a mostra segue para o Rio de Janeiro, onde ficará em cartaz na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Serviço
Abertura da exposição “Reminiscências”, neste sábado, 23, às 10h, no Ecomuseu da Amazônia da Fundação Escola Bosque de Outeiro. A mostra segue em cartaz durante dois meses, com oficinas gratuitas e visitas de segunda a sexta-feira, de 9 às 17h. Todas as atividades são gratuitas.
Texto: Gil Sóter - jornalista