Filme produzido no Sul do Pará leva a luta do MST a salas do Brasil e do mundo
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Publicado em 15/11/2022

Bastidores do Fala da Terra. Foto Benjamin de Burca.

Criada por Bárbara Wagner e Benjamin de Burca junto ao Coletivo Banzeiros do MST, obra retrata uma geração que aprofunda raízes de resistência em meio à conflitos na Amazônia

Encerrou-se neste domingo, 13 de novembro – na Sala de vídeo do Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (Masp) – a exibição do filme “Fala da Terra (2022)”, obra criada por Bárbara Wagner e Benjamin de Burca junto ao Coletivo Banzeiros do MST. Antes disso, o filme teve estreia mundial no New Museum, em Nova York, e, segundo os organizadores, ainda irá circular em festivais e espaços culturais em outras partes do mundo.

O filme partiu do convite do duo de artistas Bárbara Wagner e Benjamin de Burca, que há dez anos traduzem experiências antropológicas entre artistas populares de diversas linguagens tecendo narrativas densas, onde emergem identidades de um Brasil que precisa ser descoberto. A dupla desenvolveu um método de pesquisa a partir da investigação e observação documental, mas construindo a direção, o roteiro, os figurinos e trilhas sonoras em colaboração com os protagonistas de cada projeto.

Aglutinação do coletivo cultural foi essencial à construção da obra

Além de mostrar o sentido da luta do MST na linguagem audiovisual, o filme também apresenta o trabalho do Coletivo Banzeiros. O grupo de teatro é composto pela Juventude do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) do sudeste do Pará, região entre Marabá e Parauapebas – território emblemático da luta pela terra, onde ocorreu o Massacre de Eldorado dos Carajás, em 1996.

O coletivo de jovens artistas teve início na Unifesspa (Universidade do Sul e Sudoeste do Pará), em Marabá, onde eles iniciaram suas experiências a partir de várias apresentações teatrais nos espaços da instituição: “A maioria do coletivo de juventude que assumiu o coletivo Banzeiro no início eram estudantes da universidade também e muitos deles – alguns em Geografia e outros em História – estavam concentrados na Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará, que é a Unifesspa, aqui em Marabá-AM. Então, dentro da educação do campo a gente começou a adentrar principalmente os muros da universidade, também com a linguagem, sempre através do coletivo Banzeiros. Por exemplo, quando tinha a abertura de algum evento, a gente sempre era convidado pra participar”, disse ao portal Brasil de Fato o artista Alan Leite, um dos integrantes do coletivo e atuante no filme.

Com formação em fotografia jornalística, Bárbara Wagner contou, por sua vez, que a necessidade de mostrar a luta do MST na linguagem audiovisual partiu do aprendizado que ela mesmo teve dentro do movimento: “Eu sentia a necessidade de trazer para o campo da informação, da comunicação jornalística algo que exatamente trouxesse o fotografado, o personagem da imagem como um componente de fala, de presença e de participação. Então, eu acho que, intuitivamente, eu já estava ali (no movimento) também aprendendo o que é a construção de algo ou a desconstrução, talvez, de imagens que se formam partindo de um ponto só”.

A cineasta diz que ao coletivo veio a compreensão de que a linguagem audiovisual poderia desconstruir a imagem negativa imposta pela grande imprensa ao movimento: “Então a imagem do MST – que já tem um movimento tão importante, que já tem quase 40 anos com uma prática artística tão fundamental para a organização – tem, ainda no começo de 2020, um estigma da violência, das ocupações, na grande imprensa, vamos dizer assim. Talvez no imaginário da maioria do povo brasileiro, a prática artística do Movimento e a prática pedagógica do Movimento não fosse tão difundida. Então, eu junto com o Benjamim e com o Pedro Sotero – que é o fotógrafo, o diretor de fotografia que trabalha com a gente desde o início da nossa parceria – a gente veio chegando perto dessas questões”, disse.

Coletivo nasceu da valorização da arte e da cultura dentro do movimento

Os Banzeiros surgiram em 2016 – no marco dos 20 anos do Massacre de Eldorado dos Carajás. Eles tiveram sua primeira experiência impulsionada pelo Coletivo Nacional de Cultura do MST, durante a encenação da peça “A Face da Justiça Burguesa”. Desde então, o grupo tem aglutinado a militância, principalmente da Juventude Sem Terra em imersões artísticas que experimentam diversas linguagens teatrais na construção de narrativas próprias.

O Banzeiro Alan Leite conta que se aproximou do Movimento a partir desta aproximação do movimento com a arte:  “Eu sou esse jovem que não conhecia o MST, e eu fui para o Movimento através das linguagens artísticas, sabe? Assim, eu me apaixonei pelo MST por causa disso” – conta, destacando a arte, a cultura e a educação enquanto elementos chaves de conexão com a militância.

Com informações de MST e Brasil de Fato. Edição de Ju Abe.

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