Música, ruptura e amor
EP do estreante Antônio de Oliveira revela em cinco faixas autorais a trajetória de vida, desconstrução de gênero do autor e celebra a liberdade.
“Eu acho uma estupidez não ouvir a maluquice que está dentro de você”. O trecho é da canção “Música de Doido” e revela a potência sonora e poética do cantor e compositor paraense Antônio de Oliveira, 23 anos. A faixa compõe o EP de inéditas “O Bloco Aqui pra Você Ó”, liberado em novembro em plataformas digitais como a rede social Youtube e o streaming SoundCloud. São cinco faixas que marcam o início da carreira do artista. “Música de protesto para sensualizar e explodir em liberdade e diversidade”, conforme explica o estreante. A produção foi realizada com recursos do Seiva - Programa de Incentivo à Arte e à Cultura, por meio do Edital Prêmio produção e Difusão Artística, do governo do Estado do Pará.
A proximidade com o universo musical veio ainda na infância, com fortes influências regionais. Sobrinho dos fundadores do Arraial do Pavulagem, uma das principais manifestações culturais e artísticas do estado do Pará, desde moleque Antônio saía às ruas a batucar ao som de toadas de boi, carimbo e siriá. Com a musicalidade nas veias, seguir a trajetória da família foi questão de tempo. “Cantar é uma maneira que eu vi de me representar do jeito que eu sou. Cantar para mim é amor, afinal sempre amei música. Foi a maneira que eu vi de falar, acalantar, abraçar as pessoas”, destaca.
Sagitariano com Vênus em Capricórnio. A relação de Antônio com os astros, encantarias e entidades místicas são aspectos tão relevantes para o cantor que atravessam todo seu trabalho. Em “Saravá”, uma das faixas do EP, o artista revela a musicalidade que perpassa corpo, mente e alma por meio da sonoridade dos batuques que ressoam dos cultos de religiões de matrizes africanas. “A canção nasceu de uma ladainha que ouvi no terreiro e me inspirei. Criei o refrão, mais tarde na casa de uma amiga fiz a letra que faltava enquanto ela tocava. Com o tempo achei que precisava de um rap, foi então que chamei o Pelé do Manifesto e falei da proposta da música, ele adorou e surgiu a parceria”, conta.
De acordo com Antônio, o EP é a personificação de quem ele é. “Vejo como o resultado de todos os preconceitos, barreiras e lutas pelos quais passei. Além de inserir os ritmos que eu gosto, decidi falar de assuntos que não são muito falados, como a homofobia, a questão das travestis, do amor trans, das religiões afros, da saída do armário, e me refiro ao armário em vários aspectos, tanto sexuais como comportamento social normativo que querem nos obrigar a seguir. O EP é uma maneira de falar para as pessoas que ser diferente é normal e que está tudo bem”, defende o artista.
Ainda sobre a concepção do primeiro trabalho da carreira, Antônio acredita estar assumindo papel de enfrentamento do status quo. “Estou me colocando no pelotão de frente, mais uma nova cara para os cantores do Brasil que rompem com a heteronormatividade. Aqui no Pará esse movimento ainda é sutil, pelo menos na música. O que mais importa nessa relação é o diferente, que existe e precisa ser mostrado, precisa ser representado como um novo comportamento, atitude, sexualidade e força. Representatividade sempre importa”, argumenta.
Sobre influências musicais, Antônio afirma ser um caldeirão rítmico. “Eu brinco que eu tenho o meu top cinco (risos): Caetano Veloso, Alceu Valença, Elza Soares, Arraial do Pavulagem e Ney Matogrosso. Eles são responsáveis por construírem minha musicalidade, mas amo essa nova geração, desde Tulipa, Curumim, Verônica Decide Morrer, Filipe Catto, Johnny Hooker, Luê, Felipe Cordeiro, Banda Uó. Resumindo, eu gosto de todos os gêneros desde brega, reggae, rock, acho que o artista sempre renova suas influências”, conta.
Antônio está fechando o show de lançamento e promete surpreender no palco com uma apresentação que enaltece as diferenças e celebra a diversidade.
Texto: Elias Santos (Jornalista SRTE/Pa – 2258)
Foto: Liliane Moreira
Disponível também em:
soundcloud.com/antoniodeoliveira
Canções
- Saravá
- Música de Doido
- Purpurinou
- Viva o Moço
- O Bloco Aqui pra Você Ó