Nota pública do Facada Fest: o direito ao protesto democrático e ao Rock resistirão
Música
Publicado em 22/02/2020

Organizadores do Facada Fest lançaram nota pública sobre a intimação da Polícia Federal, por suposto crime contra a honra do presidente da república, Jair Bolsonaro (que vive arrotando ofensas a jornalistas, à classe artística, e a opositores), em despacho assinado pelo ministro da Justiça, Sergio Moro, pelo Procurador Geral da República, Augusto Aras, pela AGU e pelo Ministério Público Federal do Pará. Tudo partiu de uma representação de um grupo de extrema direita que atua em nosso País. Leia na íntegra:

NÃO NOS CALARÃO!

O Facada Fest surgiu da união de bandas autorais de rock de Belém e região metropolitana, além de alguns coletivos de produtores e produtoras culturais independentes. O nome do evento e toda a programação trata de questões nacionais a partir da sátira e do humor, linguagens presentes na música, literatura e arte como um todo desde sempre. O nosso direito é garantido pela Constituição de 1988, a Constituição Cidadã, que assegura a todo brasileiro e brasileira o direito à liberdade de expressão. Seja através do discurso político, do debate público ou da arte em suas mais diversas expressões.

Por isso causa-nos surpresa e indignação saber que organização do evento foi intimada a prestar esclarecimentos à Polícia Federal por suposto crime contra a honra do presidente da república Jair Bolsonaro (o qual vive arrotando ofensas a jornalistas, à classe artística, e a opositores), em despacho assinado pelo ministro da Justiça Sergio Moro; pelo Procurador Geral da República Augusto Aras, pela AGU e pelo Ministério Público Federal do Pará, tudo a partir de uma representação de um grupo de extrema direita que atua em nosso País.

Historicamente, a sátira a políticos, independentemente de sua posição ideológica, é uma tradição na vida social brasileira. Das charges de “O Malho” e dos textos do Barão de Itararé, ainda no início do século XX, às caricaturas dos irmãos Caruso nos principais jornais do país - passando por artistas como Juca Chaves, Ary Toledo, Angeli, Jô Soares, Chico Anysio e Laerte, O jornal “O PASQUIM, e o jornal “Resistência” aqui no Estado do Pará, retratam figuras públicas de maneira humorística ou iconoclasta. Esse cultura se consolidou não apenas como forma de protesto, mas também como um dos mais saudáveis exercícios de democracia: a liberdade de criação artística e de opinião.

Criminalizar um cartaz e um festival de música, levando os seus organizadores a prestar depoimento na Polícia Federal, não é só uma postura antidemocrática, mas também um grave ataque à liberdade artística. Um ato de censura. Uma retaliação intransigente que busca não só calar as vozes contrárias ao atual governo, mas também intimidar futuras e possíveis manifestações artísticas que ousem se levantar como vozes discordantes no cenário político e social brasileiros.

Nos perguntamos qual o real objetivo por trás deste evidente ato de intimidação contra um festival pacífico, que não registrou nenhuma ocorrência policial e que repercutiu positivamente em toda a capital paraense e no Brasil como um dos eventos culturais mais importantes do ano de 2019. E cujo objetivo principal da arte do seu cartaz era retratar, de maneira satírica, na melhor tradição da charge brasileira, o triunfo da educação sobre o obscurantismo, o combate à idéias fascistas, homofóbicas e racistas. Ora, em um país de riqueza cultural imensa como o Brasil, controlar a produção artística através de censura, judicialização e intimidação, é uma clara ameaça à nossa democracia. E também à uma rica tradição de sátira e humor que remonta a mais de cem anos de história brasileira. Uma legado que não pode, jamais, sucumbir às spirações antidemocráticas de quem se arroga a censurar quem transforma em arte seus questionamentos e insatisfações em relação aos rumos da política em nosso país.

Felizmente já existe um conjunto de advogados e advogadas, ligados a cultura e à defesa dos direitos humanos, que voluntariamente estão assumindo a defesa da organização do Facada Fest. Diversas entidades, movimentos sociais, culturais, do rock paraense e nacional estão se mobilizando em defesa da liberdade e expressão e contra tais violações.ão nos calarão.

O direito ao protesto democrático e ao Rock resistirão.

Belém-PA 22 de fevereiro de 2020

https://www.facebook.com/facadafestbelem/posts/2550686855258866?__tn__=K-R

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