Washington Duarte, a "Princesinha Dourada": a força da Amazônia vencendo os preconceitos no MMA
Atualidades
Publicado em 26/04/2022

Bem ao estilo "esse rio é minha rua", o primeiro atleta de MMA assumidamente gay cresceu na amapaense Laranjal do Jari, que faz fronteira com o Pará (Imagem: reprodução Fantástico)

Ju Abe

Laranjal do Jari, a cidade que cresceu sobre palafitas, fica a sete horas de Macapá, às margens do rio Jari. Ela faz fronteira com o Pará, pois, do outro lado do rio fica o município paraense de Monte Dourado. Bem ao estilo de Ruy e Paulo André Barata que entoaram “este rio é minha rua...”, cresceu e aprendeu sobre a vida o atleta Washington Duarte, a “Princesinha Dourada”, que tem chamado cada vez mais atenção no meio do MMA. As informações são de reportagem do Fantástico que foi ao ar neste domingo (24).

A luta já é uma constante para o povo daquele lugar. Talvez por isso, Washington não teve vergonha de assumir sua homossexualidade ao preconceituoso mundo do MMA. “No verão, sempre pega fogo em alguma parte da cidade, no inverno é enchente. Sempre alaga as casas palafitas, as ruas. É outra luta, é uma luta à parte”, diz ele, revelando o segredo de sua força, talento e coragem.

“Princesinha Dourada” já está a quinze anos no MMA. Ganhou o apelido na academia e diz que achou carinhoso. Ele afirma que neste lugar se sentiu acolhido, já fora da academia, sofre preconceitos. “O primeiro preconceito que eu tive foi de um rapaz de uma cidade vizinha. Ele falou que se ele perdesse pra mim, ele ia embora da cidade. Eu ganhei a luta no primeiro round, ele saiu da cidade”, relata.

Washington tem o hábito de entrar em cada luta vestindo uma capa, ao som da música de Ludmila: “cheguei, cheguei chegando bagunçando a zorra toda, e que se dane eu quero mais é que se exploda. Porque ninguém vai estragar meu dia”, e o público aclama, embora as piadas preconceituosas estejam sempre presentes.

O atleta tem sete lutas oficiais, sendo duas derrotas e cinco vitórias. Atualmente, ele teve a chance apenas de lutar em eventos no Amapá, mas sonha com oportunidades em eventos de maior escala. Ele acredita que a sua posição pode incentivar outros lutadores homossexuais a se assumirem publicamente, além de utilizar o esporte com o propósito de erguer a bandeira contra a homofobia.

Diante das câmeras da Rede Globo, o lutador de MMA sentiu que era o momento para contar à sua mãe sobre a homossexualidade. Numa emocionante cena, ele meio sem jeito conta à mãe que “gosta de homens”. Dona Maria de Fátima de Souza responde que já sabia a muito tempo, “desde criança”. Ele emociona-se e abraça a mãe, que confessa: “quem fica grata sou eu, de tudo que você tá sobrevivendo, tá vencendo, e que Deus lhe dê força”.

“Meu sonho é lutar em grandes eventos de MMA e ter uma oportunidade que até hoje não tive. Acredito em mim mesmo e tenho potencial para isso. O único (gay) assumido (no MMA) está sendo eu. Sei que tem mais pessoas, só que elas têm medo do preconceito, do que as pessoas vão falar. Elas têm medo da reação de muitas partes da academia. (Peço para eles) aparecerem e dizerem seus nomes, baterem no peito. Estou aqui, também vim fazer parte, vim somar e quero que eles tenham essa coragem. Mostrar para as pessoas que a gente pode ir além daquilo que tentam limitar a gente”, finalizou.

 

 

 

 

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