Acampamento da Juventude MST empodera novas gerações e mantém viva a memória do Massacre de Eldorado
Atualidades
Publicado em 19/04/2022

Performances artísticas são um dos focos do evento. Foto: Hannah Letícia (@hannah.let - MST/MA) 

 

Ju Abe

 

Por cinco dias eles permaneceram juntos em imersão, aprendendo sobre o valor do cooperativismo, da união, da memória aos mártires e principalmente sobre a sua própria história. Organizado em subunidades auto-gestionadas, como se já não bastasse a importante missão de manter viva a memória do Massacre de Eldorado dos Carajás, fazendo reverência a Oziel Alves, adolescente que, entre os assassinados de 17 de abril de 1996, foi torturado e morreu à queima-roupa gritando “viva o MST”- o Acampamento Pedagógico da Juventude Oziel Alves ensina princípios essenciais à vida desses jovens Sem-Terra.

Compondo as programações dos 26 nos do massacre, o evento já acontece a 16 anos, mas parou as atividades presenciais durante os dois anos da pandemia. Realizado entre os últimos dias 13 e 17, em Curionópolis e Eldorado dos Carajás, o acampamento retornou ao seu formato presencial, porém ainda com certas limitações, para seguir os protocolos.

“Haviam 150 jovens entre 15 e 30 anos de idade. Por causa da pandemia, definimos número reduzido, sendo mais direcionado para os coordenadores dos coletivos”, relata Pablo Neri, coordenador da Juventude do MST no Pará, historiador, assentado da Reforma Agrária em Paraupebas (PA), LGBTQIA+ e professor formador da juventude do assentamento Palmares, em agroecologia.

Pablo conta que ao primeiro dia, eles estiveram no Assentamento Frei Henry, em Curionópolis, realizando o ato de abertura do acampamento 2022 em homenagem a Frei Henry- o frei e advogado francês que dedicou a vida à luta pela terra e contra a violência no campo, e que, ao morrer, pediu para ser enterrado em um dos assentamentos do MST no Pará.

Pablo Neri é coordenador da juventude do MST Pará (Foto: Instagram @pablitoneri)

Do acampamento Frei Henry, os jovens partiram em dois ônibus rumo à Curva do S, localizada na BR 155, município de Eldorado dos Carajás, local onde aconteceu o massacre, para montar o acampamento onde permaneceram até este domingo (17).  

Com o tema “lutar é preciso, contra o fascismo, a esperança amazônica resiste”, em 2022 o evento seguiu seu percurso formativo, sempre com a intenção de manter viva a memória do Massacre de Eldorado dos Carajás, chamando a atenção para a violência no campo ainda tão presente no Pará atualmente, além de formar os jovens dentro de uma consciência cidadã, política, cooperativa e universal.

A partir da temática, neste ano houve foco na Literatura amazônica e o “tempo de leitura” (um dos espaços formativos do acampamento), pôde trabalhar autores como Dalcídio Jurandir, Benedito Monteiro, além de contos do folclore amazônico. Neri relembra que a cada ano há uma temática diferente, mas, neste ano, quiseram trazer a Amazônia com sua cultura e folclore para o centro dos debates.

“Temos o ‘tempo formatura’, o ‘tempo plenária’, o ‘tempo leitura’, a mística sempre tá presente, relembramos ensinamentos da Igreja, das romarias e das Comunidades Eclesiais de Base. O jovem tem a oportunidade de estar vivenciando cada momento e a intenção é fazer ele se envolver. Teve o ‘Cine Front’- o festival do cinema da fronteira, na sua 7ª edição, que homenageou o MST. Tem os espaços educativos, tem a plenária que é a sala de aula e tem a cozinha como espaço pedagógico; tem o espaço de saúde ‘Dr Che guevara’”, diz o jovem coordenador, ressaltando que cada um desses “tempos” e “espaços” são organizados por coletivos auto-gestionados, o que proporciona uma oportunidade de formação integral, na medida em que prima pela imersão como método pedagógico para envolver os jovens com as questões fundamentais abordadas nas discussões, além de mostrar na prática a construção do saber acontecendo de maneira coletiva.

 

foto: Hannah Letícia

A cultura também se faz amplamente presente no encontro e neste ano alguns dos artistas participantes foram Rodrigues Silva, Trevo Ribeiro, Tico Juliano, além do fotógrafo Francisco Proner a atriz e artista plástica Paly Siqueira. Participaram algumas figuras políticas locais e regionais, majoritariamente do PSOL e PT, e os professores Bruno Malheiros e Giliad Silva, ambos da UNIFESPA- que marcaram presença nas mesas de debate, entre outros.

A Casa de Memória – espaço fixo localizado na curva do S, ganhou exposição da fotógrafa Julia Mariana. Houve também homenagem ao palhaço Rolo, artista militante do MST falecido em fevereiro deste ano.

“Com bandeiras, poemas, rebeldia e narizes de palhaço a juventude Sem Terra do 16° Acampamento Pedagógico ocupou a pista na BR 155, em homenagem ao companheiro Révero Ribeiro, o nosso palhaço Rolo, que se encantou em fevereiro deste ano”, diz uma das chamadas que correm pelos grupos da juventude Sem-Terra, demonstrando que a união é a força motriz desses jovens líderes camponeses.  

O evento foi finalizado com dois compromissos para 2023: a reconstrução do famoso Monumento das Castanheiras Mortas- declarado Patrimônio Histórico e Cultural do Estado do Pará em 2019 por iniciativa do deputado Dirceu Ten Caten (PT/PA), além do retorno à duração de sete dias, formato original do ato.

O Monumento das Castanheiras Mortas, na Curva do S, faz alusão aos 19 trabalhadores Ruras Sem-Terra assassinados no Massacre de Eldorado, e foi declarado patrimônio histórico do Pará em 2019

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