Por Ju Abe
Rodrigues Silva é um cantor e compositor de talento notável nascido em Rondon do Pará, região Sudeste do estado, mais precisamente na zona rural do município- um lugar chamado Pitinga, em terras de seu avô. Cresceu ouvindo rodas de violão, onde o pai exibia composições próprias. Herdou do genitor o autodidatismo, aprendendo a tocar violão com apenas 11 anos, e compondo a primeira canção aos 17.
A relação de Rodrigues com a música e suas tendências vem principalmente através dos instrumentos. Ele relata que aprendeu a tocar violão com o gênero sertanejo de Bruno e Marrone e Zezé de Camargo e Luciano e depois veio o rock de Sistem of a Down, Slipknot, Raul Seixas e Detonautas, quando aprendeu a tocar guitarra pra compor banda na Igreja que frequentava. Mais tarde, decidiu comprar um bom violão de nylon e vieram então as influências da MPB de Luiz Melodia, Belchior, Maria Bethânia, Caetano e Gal.
O primeiro álbum solo, intitulado “Elevação”, teve suas primeiras faixas lançadas em dezembro de 2021, através da Lei Aldir Blanc de auxílio emergencial ao setor cultural. Em entrevista ao nosso portal, o cantor explicou que outras quatro faixas do disco estão ainda a serem lançadas neste ano. Apenas três meses antes, ele havia lançado outro EP em parceria com a banda “Baobá”, o qual contou com participações de músicos de Marabá e fora também concebido com recursos da Lei Aldir Blanc.
Com um timbre forte e original, Rodrigues mostra em seu trabalho autoral, além do músico multiinstrumentista e autodidata, um cantor visceral e um poeta que sabe o que quer dizer: “Luta, resistência, amor, ancestralidade, críticas sociais, dentre outras coisas(...). Como estudo Sociologia, geralmente gosto de simplificar pensamentos e conceitos dentro das letras, uso isso mais pessoalmente para trabalhar algo junto com etnomusicologia, talvez”.
O artista é militante do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra, o MST, e hoje vive em área do assentamento Palmares em Parauapebas/PA, que pertence ao movimento. Ele faz questão de trazer as causas sociais e étnicas pra dentro de sua musicalidade, compreendendo que arte, luta e ancestralidade fazem parte da construção da justiça social: “a gente tentou trazer algo da luta e resistência na música preta afroamazônica, misturando o reggae com percussão/tambor que marca nossa ancestralidade”.
Foi em Parauapebas, também no Sudeste paraense, que o cantor e compositor firmou parcerias com músicos locais, e considera a amizade como a principal base de sua carreira e triunfo: “amigos, colegas, irmãos, artistas, músicos, bandas, grupos, (...), nesse percurso eu fiz som com muitas pessoas, e isso foi o maior feito nesses últimos tempos. Fazer naturalmente e com pessoas que também amam o que amo fazer, que é música, que é arte. E é claro, poder compartilhar meu trabalho para o mundo, foi algo grande”.