MPB paraense resiste no 1º Prêmio Amazônia de Música
Música
Publicado em 31/05/2023

Coletivo Mergulho concorre na categoria "Melhor álbum de MPB" com o seu estreante "Cantos de Encantaria". (créditos: Rogério Folha)

Por Ju Abe

Dentre as diversas classificações que os agentes do mercado musical procuram, não com facilidade, dar às diversas vertentes, ritmos e estilos que permeiam o universo da música, o gênero “MPB”, é talvez o mais emblemático, diverso e difícil de “encaixar” mesmo dentro de seu próprio domínio. Curiosamente, houve um tempo em que no Pará tentou-se a criar o “MPP”- Música Popular Paraense, numa tentativa de determinar um espaço só do Pará dentro destas classificações, espaço este que dialogava intimamente com o mundialmente consagrado MPB.

Mas, para os organizadores do “Prêmio Amazônia de Música”, condecoração da música paraense que premiará diversos artistas que lançaram trabalhos nos anos de 2021 e 2022 no dia 6 de junho, no templo da cultura paraense- o Teatro da Paz, o sofisticado gênero “MPB” tem seus grandes representantes dentro do estado, cujos melhores, segundo os critérios estabelecidos pelo time de curadoria, serão reconhecidos para que a produção artística paraense dê sua contribuição à continuidade deste gênero brasileiro que enfrenta dificuldades para manter-se, já que entre seus princípios estão justamente o ir de encontro ao óbvio e ao corriqueiro, prezando por uma espontaneidade, originalidade e representatividade que muitas vezes não correspondem aos padrões impostos pelo mercado.

Dentre os indicados na categoria “MPB” do 1º Prêmio Amazônia de Música temos os artistas Camila Honda, Coletivo Mergulho, Juliana Sinimbú, Márcio Macêdo, Nilson Chaves e Karen Tavares, distribuídos entre as categorias “Melhor grupo/ intérprete”, “Melhor música” e “Melhor álbum”.

Carol Magno, cantora e integrante do Coletivo Mergulho, disse à Rádio Iara que considera o evento uma oportunidade única para artistas com pouco espaço na grande mídia. “É uma possibilidade das pessoas terem um reconhecimento do seu trabalho, oportunizando outras pessoas conhecerem os indicados de cada categoria. Porque tem muita gente que conhece os artistas que têm uma abertura maior na mídia, isso não quer dizer que não existam outros artistas, que têm um nicho específico, ou que sejam do interior, ou que sejam da periferia”, disse a indicada.

 

Cantora acredita que a MPB mantém viva a cultura popular brasileira

 

A cantora e atriz Carol Magno, cujo trabalho foi indicado na categoria “Melhor álbum” com o seu estreante “Cantos de Encantaria”, produzido em parceria com o cantor, compositor e escritor paraense Renato Torres, enfatiza que os vários ritmos populares brasileiros tendem a ser “soterrados” por ritmos que têm um alcance maior de público, e que a MPB existe justamente para que aqueles ritmos não morram: “estar nessa categoria de MPB, pra gente é muito importante, porque a música que a gente ‘tá’ nesse trabalho passeia por vários ritmos, como o Ijexá, como muitos outros que estão dentro da cultura popular, mas que muitas vezes são soterrados por outros que têm um público maior”, diz a artista.

O álbum “Cantos de Encantaria” foi lançado em 2021 e contém composições que começaram a ser feitas em 2014, com influências que além do Ijexá, flertam com o Carimbó, o Siriá, o Samba-de-cacete, o Lundu marajoara. Dentre as várias estéticas e identidades que permeiam o trabalho, a artista destaca a influência de seu bairro de origem, o Jurunas, onde “se respira música” segundo ela. “Especificamente na minha infância e adolescência a gente tinha procissões, muito cortejo, a escola de samba tinha uma força muito maior, a gente tinha as quadrilhas juninas que tinham uma força gigantesca, cada rua tinha uma quadrilha junina, além das aparelhagens”, disse. Entre outras, a faixa “jurunaldeia” representa esta identidade, trazendo a cultura da periferia belenense em diálogo com a herança ancestral indígena.

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