Em show, Marisa Monte repreende xingamento e diz que ‘fora Bolsonaro’ basta
Música
Publicado em 02/08/2022

Cantora interrompe público que ensaia xingamento homofóbico, celebra urnas eletrônicas, pede voto consciente e sorri para a democracia

Por Paulo Donizetti de Souza | RBA

 

São Paulo – “Não gente, por favor, assim não.” Dessa forma, delicadamente, Marisa Monte pediu a uma pequena parte do púbico que parasse de gritar “ei, Bolsonaro, vai tomar no c*”. “Sem manifestações homofóbicas, por favor.” Um pouco antes, a plateia havia gritado, dessa vez em coro majoritário, Fora, Bolsonaro. O roteiro de seu show Portas, na noite de ontem (28), caminhava para o final. Apesar de não ter provocado o público, a cantora e compositora estava preparada, porque já havia se deparado com protestos contra o atual presidente da República em outros shows, pelo Brasil e em Portugal.

“Democracia é isso, liberdade de expressão é isso. Queremos mais democracia, mais educação, mais saúde, mais ciência, mais meio ambiente, mais homoafetividade”, disse. Para delírio do público que lotou pista e cadeiras do Espaço Unimed (antigo Espaço das Américas), encantado com o generoso repertório de duas horas de clássicos. “O ‘fora’ já basta”, finalizou, sem citar o nome de Bolsonaro. A apresentação desta sexta-feira (29) é a última de cinco na capital paulista.

Além de apoiar o “fora…”, Marisa Monte celebrou a proximidade das eleições e defendeu o sistema eleitoral. “Este ano a gente vai poder expressar de novo todos os nossos desejos naquela maravilhosa urna eletrônica”, disse, com largo sorriso.

Por não ser a primeira vez, Marisa parece ter incorporado o tom civilizado, didático e contundente ao roteiro. E fez questão de alertar sobre o voto consciente também para os cargos legislativos. Este ano, além de presidente e governadores, serão eleitos um senador por unidade federativa, além de deputados federais e estaduais. A cantora disse que não se pode descuidar.

“Vamos eleger os próximos representantes do Legislativo que acabem com os segredos. Emendas secretas, coisas secretas, sigilos. Isso não é democrático. Eu quero saber! Boa sorte, Brasil!”

Portas, de Marisa Monte

Para a apresentação iniciada por volta de 21h45, encerrada duas horas depois, Marisa levou 30 canções de quase todos os seus álbuns. Do primeiro, MM (1989), ao mais recente, Portas (2021), pense em 10 de suas favoritas: ela toca nove – além da a inédita Feliz, Alegre e Forte. Os efeitos visuais, projetados no palco em formato de “cubo” e nas roupas da cantora, estavam mais “modestos” do que em shows anteriores. Mas não menos criativos e elegantes.

Marisa reverencia com carinho os oito músicos que a acompanham, mas dedica um momento especial ao arranjador e multi-instrumentista Dadi Carvalho. O músico já tocou com Novos Baianos, Barão Vermelho, Tribalistas, Caetano Veloso, Mick Jagger. E é classificado por ela como “pai do pop nacional” pela fundação de A Cor do Som, em 1977, ao lado de Armandinho, Gustavo Schroeter e seu irmão Mu Carvalho.

Além de Dadi, tocam Davi Moraes (filho de Moraes Moreira, na guitarra), Pupillo Oliveira (Nação Zumbi, na bateria), Pretinho da Serrinha (percussionista, meio Império Serrano, meio Portela) e Chico Brown (filho de Carlinhos e neto de Chico Buarque, que toca teclado, guitarra e canta). O suingue sincronizado do trio de metais Antonio Neves (trombone), Eduardo Santanna (trompete e flugelhorn) e Lessa (flauta e sax) faz lembrar cenas dos Blues Brothers.

No repertório, na voz, na linguagem corporal, no olhar, Marisa Monte se expõe a um momento de resistência poética. Algumas canções caberiam tanto num filme de Cinderela quanto num comício na Cinelândia. Como quem diz que “mais democracia”, se não for um fim em si, é caminho para um Vilarejo. No encerramento, inicia a frase “Bem que se quis…”, deixa o palco, fecham-se as cortinas e o público conclui o trabalho à capela. 

 

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