Fórum de Culturas do Pará divulga carta de solidariedade aos povos indígenas e às famílias de Bruno Pereira e Dom Phillips
18/06/2022 17:15 em Atualidades

O Fórum de Culturas do Pará, coletivo que reúne representantes de diversos seguimentos culturais organizados para  reinvindicar políticas de melhorias para a área cultural do Estado do Pará, publicou uma nota em solidariedade às famílias do indigenista Bruno Araújo Pereira e do jornalista britânico Dom Phillips, brutalmente assassinados na Terra Indígena Vale do Javari. 

"Notadamente, esses desaparecimentos são políticos e não podem de forma alguma serem tratados como o resultado de uma aventura na floresta, mas sim como o que realmente são: crimes contra os povos indígenas e seus defensores na luta pela floresta em pé e pela continuidade da vida planetária", diz um trecho da nota, referindo-se à uma fala de Bolsonaro na qual ele afirmou que Bruno e Dom estavam em uma aventura na floresta, insinuando que os dois não tomaram os devidos cuidados consigo mesmos.

 

Segue a nota na íntegra. 

 

O FÓRUM DE CULTURAS DO PARÁ vem a público se solidarizar com os familiares e amigos do indigenista e funcionário público da Fundação Nacional do Índio - FUNAI, Bruno Pereira, e do jornalista britânico Dom Phillips, vítimas de brutal assassinato e execução no Vale do Javari, região que abriga o maior número de povos indígenas isolados na floresta amazônica.

A morte de Bruno e Dom expõe os desafios dos povos indígenas do Brasil frente as ações nefastas impostas pelo desgoverno de Bolsonaro e sua cúpula. Nos quais todos os dias, inúmeras lideranças, homens, mulheres e crianças de diversas etnias indígenas e, em territórios diversos, são assassinados, executados ou simplesmente desaparecem.

Notadamente, esses desaparecimentos são políticos e não podem de forma alguma serem tratados como “o resultado de uma aventura na floresta”, mas sim como o que realmente são: crimes contra os povos indígenas e seus defensores na luta pela floresta em pé e pela continuidade da vida planetária. Bruno e Dom foram friamente assassinados por representarem o compromisso dos povos indígenas do Vale do Javari com a luta pela sobrevivência e defesa da Amazônia.

Sob o governo do presidente Jair Bolsonaro, a Funai se tornou uma fundação antiindigenista, marcada pela não demarcação de territórios indígenas e a perseguição a servidores e lideranças. Essas denúncias e outras mais constam de amplo dossiê produzido pelo Instituto de Estudos Socioeconômicos (INESC), em conjunto com a Associação de Indigenistas Associados (INA), que representa servidores da FUNAI.

O dossiê aponta uma militarização sem precedentes da Funai. Das 39 Coordenações Regionais do órgão, apenas duas são chefiadas por servidores civis – outras 24 são coordenadas por oficiais das Forças Armadas e policiais militares ou federais. Para além da militarização, o documento acusa o governo de Jair Bolsonaro de reduzir as verbas destinadas às ações atribuídas a Funai e instrumentalizar o órgão no sentido de priorizar e defender interesses não indígenas, como ficou claro no julgamento do marco temporal no STF.

Durante os três anos de mandato de Bolsonaro, houve um retrocesso nos processos de demarcação de terras indígenas. Nem sequer verba do orçamento público foi destinada à causa.

O Fórum de Culturas do Pará se junta à UNIJAVA (União dos Povos Indígenas do Vale do Javari), APIB (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil) e demais entidades da sociedade civil na defesa dos direitos dos povos originários, inclusive de suas tradições culturais, e no repúdio às políticas anti-indígenas e anti-proteção ambiental do governo Bolsonaro, que são responsáveis, em última instância, pela trágica perda das vidas de Dom Phllips e Bruno Pereira, e que continuam produzindo outras tragédias na Amazônia.

Imagem: Carta Capital

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