O álbum “Senhora Tempo” também homenageia a mãe do cantor Olivar Barreto
Foto: Marcelo Rodrigues
Por Ju Abe
Olivar Barreto nasceu no rio Baquiá, que banha as ilhas no entorno do município de Gurupá, o último município da Ilha do Marajó e primeiro da região do Baixo Amazonas. O rio fica a seis horas de barco da cidade, e foi o local da casa de seus avós.
Talvez tenha sido essa a inspiração para o título de seu segundo álbum: “Esse Ruy é minha rua” (2011), que parafraseia o famoso verso “esse rio é minha rua”, de Ruy Barata, um dos mais expressivos retratos artísticos da realidade de grande parcela da população amazônica, que é ribeirinha.
Entretanto “Esse Ruy é minha rua” pode também fazer alusão ao bairro do Jurunas, onde Olivar viveu e cresceu desde que a família mudou-se para viver em Belém. Isso porque, durante a infância, o cantor viveu como a maioria das crianças do Jurunas: brincando na rua. Porém, o maior refúgio sempre foi a música: “eu era um garoto que ia pra rua e brincava, mas quando eu voltava pra casa, eu tinha um refúgio meu, que eram os discos(de vinil)”, disse ele, em entrevista concedida ao Ponto de Pauta.
Agora, o artista colhe os frutos de sua última produção, o álbum “Senhora Tempo”. Lançado em outubro de 2021, a obra faz alusão ao tempo como o lugar de amadurecimento e reflexão, e que tem como gênero, segundo Olivar, o feminino. Como símbolo desta reflexão sobre “A Senhora Tempo”, está a mãe de Olivar, uma mulher idosa com quem ele vive, e que aparece ao seu lado, na capa do álbum.
E o tempo, retratado por tantos artistas brasileiros, não à toa figura entre as maiores inspirações do cantor. Ele já tem mais de 30 anos de carreira e declara, como o maior feito, o simples fato de estar fazendo música, o seu grande amor. “O mais importante é, ao final de 30 e poucos anos de carreira, eu continuar trabalhando com música né, é continuar resistindo dentro da música que é uma coisa que eu amo, então esse é o maior feito pra mim”.
O disco Senhora Tempo completa um ciclo autoral de três álbuns e um single lançados, produções que ele carrega junto de uma vasta bagagem: além de intérprete consagrado em frequentes “gigs” em bares e espaços culturais de MPB e MPP, em Belém, o artista venceu vários festivais regionais, como o Festival de Ourém, onde ganhou várias vezes nas categorias melhor intérprete e primeiro lugar em melhor música, além de segundo e terceiro lugares.
Olivar afirma que seu trabalho é essencialmente o de intérprete, mas que, neste mais recente álbum, ele enveredou-se pela primeira vez nos caminhos da composição: “Ele (o Senhora Tempo) é importante pra mim porque pela primeira vez eu coloquei canções que eu assino”, diz ele, referindo-se às três composições cujas autorias são suas: uma integralmente e duas em parcerias, com Rafael Guerreiro e João Paulo Daibes. Iva Rothe, Maria Lídia, Almino Henrique, Ronaldo Silva, Felipe Cordeiro e Dand M, são outros dos compositores que participam.
Além destas parcerias, outras antigas ajudaram a conceber o álbum: o violonista Figueredo Junior, o baixista Príamo Brandão, o guitarrista Léo Chermont, o tecladista Dan Bordallo e o baterista Arthur Kunz . Concebido durante a pandemia, ele não se furta às questões conjunturais: “teve algumas questões que eu queria muito falar. Cê sabe que a gente tá vivendo um governo que é uma catástrofe, e várias questões, de coisas ruins, se potencializaram no Brasil, uma delas é em relação ao preconceito com pessoas trans, pessoas negras, etc. Então eu escolhi algumas músicas com esse intuito”, diz ele, referindo-se à necessidade de posicionamento. “Não tem como a gente ter afirmação senão for nos unindo e podendo cada um viver com sua liberdade de existir”, continua.
Entre os principais projetos para o futuro, está a produção do quarto álbum, já em fase de gravação. Olivar diz que este próximo trabalho tem a influência do Tropicalismo, que ele classifica como seu “berço”, com flertes entre o rock e o pop. O novo trabalho terá 11 faixas, com produção de Arthur Kunz.
Assinar RSS
