Foto: Luan Cardoso
Texto: Débora Venturini
Há cinco décadas, cantora conhecida pela classe artística como a rainha da música da Amazônia, lança disco que exalta a cultura do Amapá, produzido por Dante Ozzetti e contemplado pelo Rumos Itaú Cultural.
E no meu rio / Rio de pedra navego / Meu barco voa sem vela / Rio e navego sozinha.
É com esses versos de Pedra de Rio (Luhli, Lucina), que Oneide Bastos abre seu disco, homônimo, que conta através da música, a cultura da região amazônica, e acima de tudo, a sua própria história. O disco, com a produção musical, direção artística e arranjos de Dante Ozzetti e selecionado pelo Rumos Itaú Cultural 2019-2020, foi gravado e mixado por Luís Lopes no Estúdio C4AudioLab e masterizado por Carlos Freitas (Classic Master).
Pedra de Rio (Luhli e Lucina), Jurupari (Oneide Bastos), Taemã (Enrico Di Miceli e Antônio Messias), Voou (Paulinho Bastos e Osmar Junior), Alto Mar (Dante Ozzetti e Luiz Tatit), Congá (Paulinho Bastos), Batuqueiros (Paulinho Bastos), Suprema (Joãozinho Gomes e Lula Barbosa), Puçangueira (Joãozinho Gomes e Eudes Fraga), Sereia do Rio-Mar (Joãozinho Gomes, Eudes Fraga e Paulo Oliveira), formam o repertório do disco.
No disco, Oneide (voz), está acompanhada por Dante Ozzetti (violão, guitarra elétrica), Fi Maróstica (baixo), Guilherme Held (guitarra elétrica), Guilherme Kastrup e Nena SIlva (percussão), Hian Moreira (bateria), Luiz Amato, César Miranda, Soraya Landim, Andreas Uhlemann, Amanda Martins, Caio Santos, Alex Braga e Guilherme Peres (violinos), Emerson De Biaggi, Elisa Monteiro e Fábio Tagliaferri (violas), Adriana Holtz e Jin Joo Doh (cellos), e Marco Delestre (Contrabaixo). Na faixa Batuqueiros, Oneide conta com a companhia preciosa da voz de Ná Ozzetti.
Para Dante Ozzetti, “É um trabalho importante de uma cantora singular, que traduz dentro da sua trajetória o universo amazônico. O repertório escolhido e a forma como o interpreta são convidativos e levam o ouvinte a viajar consigo pela sua história de vida, que entra pelos rios, pela floresta, pela magia, pelo imaginário.” E finaliza, “Ao embarcar nesse canto, conhecemos um Brasil ainda distante para nós. O Amapá é de uma riqueza cultural imensa, e esse projeto proporciona não só essa viagem, mas também a construção de pontes, unindo artistas e compositores de lá, aos daqui de SP.”
Nascida na década de 40, na Ilha dos Porcos, na região do Afuá, no Pará, num braço do Rio Amazonas, Oneide conta que veio ao mundo tão pequena que cabia em uma mão do pai, que desacreditava que ela sobreviveria. Hoje, sem revelar a idade, ela prova que seu tamanho não foi empecilho em nenhuma fase de sua vida, nem para se tornar uma das principais cantoras do Amapá, estado que a acolheu ainda criança e também onde ela formou uma família.
Ao lado do marido Sena Bastos, seu grande incentivador, e dos seis filhos, sendo cinco artistas, Oneide estudou Biblioteconomia e exerceu essa função por alguns anos. No entanto, foi na música que se realizou. Cantava desde muito cedo, mas profissionalmente, sua carreira artística teve início nos anos 70, no grupo “Seono” produzido pelo companheiro, tendo como integrantes: Sena Bastos; Edson Maciel; Noé do Bandolim; Orivaldo e a própria Oneide. Ajudou a fundar o “Trio da Terra” e também integrou o “Quarteto Clave de Sol”. Em 1994, lançou o primeiro disco, “Mururé”.
Mesmo sofrendo com algumas resistências para seguir na música, não em casa, mas fora dela, Oneide nunca desistiu. “Se eu parar de cantar, eu morro”, declara. E finaliza “se meu Sena estivesse vivo, ele estaria orgulhoso, porque agora eu vivo um momento de felicidade plena, glória e eterna gratidão, por estar cantando essa música tão importante para o mundo. Um disco de valor inestimável, pela ideia, proposta e o cuidado e o amor de toda a equipe pela execução, liderada por Dante Ozzetti. Um sopro de luz na minha vida, na minha carreira”.
Matriarca de uma família de artistas que atuam em diversos segmentos da cultura popular, como carnaval, quadra junina, música, dança, candomblé e outros, ela é conhecida por muitos artistas como a rainha da música da Amazônia, por defender essa temática regional há quase cinco décadas e ter a voz como referência para a nova geração.
Para ouvir o novo disco de Oneide Bastos nas plataformas digitais clique em: Oneide Bastos
Sobre o Rumos Itaú Cultural
Um dos maiores editais provados de financiamento de projetos culturais do país, o Programa Rumos, é realizado pelo Itaú Cultural desde 1997, fomentando a produção artística e cultural brasileira. A iniciativa recebeu mais de 75,8 mil inscrições desde a sua primeira edição, vindas de todos os estados do país e do exterior. Destas, foram contempladas 1,5 mil propostas nas cinco regiões brasileiras, que receberam o apoio do Instituto para o desenvolvimento dos projetos selecionados nas mais diversas áreas de expressão ou de pesquisa.
Os trabalhos resultantes da seleção de todas as edições foram vistos por mais de 7 milhões de pessoas em todo o país. Além disso, mais de mil emissoras de rádio e televisão parceiras que divulgaram os trabalhos selecionados.
Na última edição, de 2019-2020, os 11.246 projetos inscritos foram examinados, em uma primeira fase seletiva, por uma comissão composta por 40 avaliadores contratados pelo Instituto entre as mais diversas áreas de atuação e regiões do país. Em seguida, passaram por um profundo processo de avaliação e análise por uma Comissão de Seleção multidisciplinar, formada por 23 profissionais que se inter-relacionam com a cultura brasileira, incluindo gestores da própria instituição. Foram selecionados 91 projetos.