Foto: Agência Belém
Ju Abe
O que se viu nas noites que integraram a programação em comemoração dos vinte anos do filme “Chama Verequete”, foi uma grande celebração da cultura do Pará, recheada com doses de emoção, além de muita música e imaginário místico popular. Promovida pela Prefeitura de Belém e Fumbel, o evento busca incentivar tanto a cultura do carimbó, quanto a produção audiovisual local, já que o curta-metragem dirigido por Luiz Arnaldo Campos e Rogério Parreira receberam prêmio na categoria de melhor trilha sonora do Festival de Gramado, uma das mais importantes premiações do cinema latino-americano. Desde então, o filme consagrou-se enquanto divisor de águas da produção artística musical e audiovisual de Belém.
“Ficamos muito felizes quando soubemos que a premiação viria na categoria de melhor trilha sonora, pois a música do filme é toda do Verequete”, orgulhou-se Rogério Parreira.
Na noite da segunda-feira, o premiado curta-metragem foi exibido no Cine Líbero Luxardo, com um bate-papo logo após a exibição, conduzido pelos familiares de Verequete, os diretores do filme e o prefeito de Belém Edmilson Rodrigues. “Não tem como desenvolver o turismo, não tem como desenvolver nada, porque não há dignidade sem identidade cultural”, disse o prefeito Edmilson Rodrigues que foi enaltecido pela família de Verequete como um dos maiores apoiadores do trabalho do mestre.
A sessão de exibição seguida de debate ocorreu na segunda-feira (14) no Cinema Líbero Luxardo e estava completamente lotada. O público permaneceu até o final do debate e as falas carregadas de lágrimas da família de Verequete emocionaram os presentes. “Ele resgatou também uma cultura que tava escondida, da periferia”, disse Augusto Rodrigues, filho de Verequete que estava compondo a roda de debate.
Misticismo- O filho que carrega o nome de batismo de Verequete destacou o lado místico do pai. Ele relatou que o mestre de carimbó nasceu com o dom da cura, recebendo em sua casa diversos doentes, cujas enfermidades eram sanadas apenas com toques e palavras. “As pessoas até hoje perguntam se ele era macumbeiro. Não. meu pai era um curandeiro”, disse o filho que hoje toca curimbó no grupo “Uirapuru”, que perpetua o legado de Verequete. Relatos do mestre de carimbó no filme dizem que ele teria recebido para si num “batuque” o nome da entidade cultuada no Tambor de Minas- o Verequete. Sabe-se que o “tambor de minas” é uma das vertentes do candomblé praticado no Brasil, entretanto, os curandeiros são um tipo de manifestação diferente destas religiões de matrizes africanas- são pessoas que têm o seu trabalho mais voltado à cura do que aos ritos.
Música e dança- Na segunda noite da programação ocorrida nesta quarta-feira (16), os bate-papo foram deixados de lado e houve somente uma segunda exibição do filme, precedida da fala do presidente da Fumbel Michel Pinho, e procedida da apresentação do grupo de carimbó Uirapuru com a ilustre presença de Mestre Curica, outra figura ícone da cultura local.
O anfiteatro do Memorial dos Povos encheu-se de expectadores que novamente se emocionaram com a história de Verequete e sua carismática família que esteve presente em três gerações. Dois curimbós, um par de maracas, uma flauta transversal, um banjo e várias vozes entoaram várias canções de Verequete, num show de mais de uma hora que empolgou a plateia. Várias pessoas desceram anfiteatro e dançaram juntos com os dois casais de dançarinos, com direito a “canja” do prefeito, que mais uma vez marcou presença.
A programação em comemoração dos vinte anos do filme Chama Verequete segue até o dia 27, quando será encerrada com uma roda de carimbó mais uma vez conduzida pelo grupo Uirapuru, na Feira do Açaí, às 17 horas.