Arte multilíngue e ancestralidade: conheça Azuliteral, a nova representante paraense no Edital Natura Musical
Música
Publicado em 14/02/2022

 

 

Por Ju Abe

 

A cantora, compositora, escritora e bailarina Azuliteral foi uma das artistas selecionadas a compor o grupo de representantes paraenses no edital Natura Musical 2021, com execução em 2022.

 

Com o patrocínio da Natura, ela poderá conceber o primeiro álbum de sua carreira, intitulado “Nossas Tramas”, o qual fora inspirado pelo livro “Trama das Águas”, uma coletânea de autoras paraenses da qual ela faz parte, e onde assina com o nome de escritora- Rafaela Oliveira. Ela define a influência da obra em seu trabalho como um “grande objeto de estudo histórico, geográfico e místico”.

 

 

Com uma personalidade artística marcante, forte e consciente da força e da representatividade subjacentes ao existir da mulher afro-amazônida, Azuliteral apresenta uma musicalidade que apela a um recurso estilístico lapidado e raro, e tudo isso parece vir de maneira  espontânea: “nem em um milhão de anos eu seria capaz de dizer o que é essa energia crescente que me inquieta e me faz criar. Quiçá é ancestral, vozes abafadas de outras que me antecederam e que me constituem, que infelizmente não puderam cantar o que eram, sentiam, pensavam”, disse ela, em entrevista à Rádio Iara.

 

Entretanto, por trás da naturalidade de uma arte que parece transbordar, a cantora carrega uma vasta bagagem. Analisando seu relato, é possível perceber que o trabalho Literário e musical fundem-se, e, ao mesmo tempo, estão em relação de causa e efeito:  Azuliteral é uma artista consciente do contexto histórico e espacial, e traz isso pra sua criação:

 

 “Resgatando o ideal do movimento modernista brasileiro, que era o rompimento com o tradicionalismo e as correntes artísticas européias para valorizar, enfim, a cultura cotidiana, sincrética e multiétnica brasileira; procuro construir uma estética que valorize e represente a ‘amazonidade’ que há em mim, tentando não cair em interpretações caricatas dessa identidade e espaço, impostos pelos olhares que vêm de fora”, diz a artista habitante do bairro do Guamá, em Belém.   

 

 

Não por acaso a sonoridade ganhou os corações dos curadores do cobiçado edital Natura Musical: ela traz uma mistura implacável carregada de historicidade em gêneros como MPB, MPP, Samba, Soul e Jazz, apesar de reivindicar sua condição de artista amazônida  que busca a transposição dos rótulos: “Não me interessa eleger um ou outro gênero musical para chamar de meu. Cada composição, momento da vida e inspiração pede por uma linguagem, um ritmo ou por uma mistura. É sobre deixar a música, a arte agir primeiro e as classificações depois”.

 

O estilo da cantora pode ser conferido no EP “Cabana”, disponível em todas as plataformas musicais e também na programação da Rádio Iara.

 

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